terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

"O pavor da solidão é maior que o medo da escravidão: assim, nos casamos. " ( Cyril Connolly )



Estava viajando por alguns blogs e sites e me deparei no site "Não dois, não um" com algumas dicas para casais que moram juntos. Como faço parte deste grupo há 3 anos( apesar de neste exato momento experimentar o tão temido relacionamento à distancia) logo me interessei pelo tema e nele encontrei uma dica que causou um pouco de dúvidas nos leitores do site, mas me fez ter uma leitura filosófica, a dica era a seguinte:

9. Casem

Antes de morar junto, por favor, casem. A mudança dos móveis consolida um casamento de qualquer modo, apenas admitam e superem qualquer aversão a essa instituição falida. Ela ainda movimenta o imaginário coletivo: mesmo para os casais mais moderninhos, a afirmação “somos casados” é bem diferente do que “moramos juntos”. Além disso, morar junto sem festa de casamento e lua-de-mel é como ir a praia, enfrentar trânsito para chegar, ser picado por mosquitos, pagar caro pelo guarda-sol e não entrar no mar. É cair na pior parte do casamento sem aproveitar a melhor. Se não quiserem enfrentar papéis e não simpatizarem com religião alguma, apenas celebrem: chamem os mais próximos, dancem, se declarem publicamente ao som da música mais linda e comecem uma vida a dois só depois de chegar do aeroporto.


Não concordo com tudo que ele diz mas pegando a linha de pensamento da dica, acredito que as pessoas ao decidirem morar juntos deveriam se casar sim... mas não com festas, rituais religiosos ou acordos nupciais. Elas deveriam casar-se, um com outro, de corpo e alma.

Vemos cada vez mais casais que passaram por todos os ritos de passagem da solterisse para a vida de casado que não conseguem aproveitar as coisas boas que a vida à dois podem oferecer, como o companheirismo, a cumplicidade e os belos imprevistos da vida cotidiana, na maioria das vezes cômicos(ou pelo menos um bom episódio de uma tragi-comédia) pelo simples fato de, apesar dos votos e assinaturas não terem se comprometido de fato com a pessoa que decidiu dividir sua vida, mesmo que seja por um tempo.

Têm se tornado cada vez mais comum pessoas casadas não terem absolutamente nada em comum em suas vidas, a não ser a cama que dividem( as vezes só para dormir mesmo) no fim do dia. Elas não possuem o mesmo ciclo de amizades, não frequentam os mesmo locais e nem trocam idéias sobre o que aconteceu no seu dia. Parece que, nestes casos, o casamento continua sendo um acordo econômico, onde juntamos nossas rendas para tentar fazê-las ter lucros e, então, termos a possibilidade de um vida mais confortável.

Pensando desta forma, é claro que o casamento terá essa imagem de instituição falida. Não estou falando que tudo deve ser igual à época do namoro, mas por que não tentar manter aquelas coisas que mais fizeram você ter o desejo de dividir sua casa e sua vida com seu escolhido(a)?

Acho que a vida já é tão dura que se não tentarmos fazer a nossa parte para que a vida à dois seja mais gostosa, as piadas infames sobre casamento se tornarão a mais pura verdade em nossa, mas sem aquela risada no final, pois a desgraça só se torna engraçada quando já se passou um tempo desde o acontecido ou quando acontece com o outro!




quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Eu fiz dois anos de estágio no Setor Psicossocial das Varas de Família, onde encarava diáriamente brigas familiares de todo o tipo que se possa imaginar: brigas por pensão, por guarda, por querer ser o pai da criança, por NÃO querer ser o pai da criança, pra ver quem ficaria com guarda delas, ou pra empurrar a guarda da mesma pra qualquer um que não ele(a).Irmãos brigando pra ver quem cuidaria dos pais, outros pra ver quem receberia a pensão gorda do idoso, enfim, lidei neste período com histórias bonitas, trágicas, cômicas e revoltantes.

Neste período aprendi muito sobre as relações familiares e sobre aqueles aspectos que não conseguimos ver ou compreender à primeira vista. Aprendi, por exemplo, que muitas pessoas iniciam um processo judicial de guarda por não quererem se ver livre do ex-parceiro e a briga é a unica maneira encontrada para que eles ainda mantenham algum tipo de relação. Vi que muitos casos de crianças criadas pelas avós fazem parte de um ciclo vicioso onde há uma tentativa de compensar um erro do passado, mas que acaba culminando em erros muito maiores no presente.

Mas vi, principalmente, que a incapacidade dos adultos conseguirem se entender com o mínimo de civilidade faz da criança a maior vítima dentre todos os envolvidos na tal briga. Ver seus pais bringando entre si começa o primeiro prejuizo para ela, pois a criança fantasia que terá que escolher um dos pais como o certo e o outro como o errado (isso quando ela não é de fato obrigada a fazer esta escolha, até mesmo perante o juíz). Depois de dado inicio no processo, onde no fim haverá um vencedor e um perderdor, apesar de isso não ser dito às claras, iniciam-se as campanhas pelo vilão da vez, onde o primeiro eleitor que tenta ser convencido disto é, mais uma vez, a criança.
Depois de muito desentendimento, disse me disse, e outras "cositas" mais vai ficando cada vez mais confuso na cabeça dos filhos a imagem de seus pais que ele tinha inicialmente, como aqueles que o amarão e protegerão acima de qualquer coisa. Quem será que me ama? quem me quer realmente junto dele?será que sou eu o culpado por toda essa briga?será que se eu escolher morar com a minha mãe meu pai não vai mais me amar?

Hoje sei que quando se trata de família não há briga pior (e mais injusta) na justiça, pois há uma tentativa de encontrar alguém que seja mais correto, ou que tenha mais razão onde, na verdade, nenhuma das partes estão totalmente com a razão ou são completamente corretas, mas são vítimas da complexidade de se envolver emocionalmente e familiarmente uns com os outros. Onde todos estão dispostos a dar o melhor de si, desde que também recebam o melhor daqueles que quer bem.