quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Eu fiz dois anos de estágio no Setor Psicossocial das Varas de Família, onde encarava diáriamente brigas familiares de todo o tipo que se possa imaginar: brigas por pensão, por guarda, por querer ser o pai da criança, por NÃO querer ser o pai da criança, pra ver quem ficaria com guarda delas, ou pra empurrar a guarda da mesma pra qualquer um que não ele(a).Irmãos brigando pra ver quem cuidaria dos pais, outros pra ver quem receberia a pensão gorda do idoso, enfim, lidei neste período com histórias bonitas, trágicas, cômicas e revoltantes.

Neste período aprendi muito sobre as relações familiares e sobre aqueles aspectos que não conseguimos ver ou compreender à primeira vista. Aprendi, por exemplo, que muitas pessoas iniciam um processo judicial de guarda por não quererem se ver livre do ex-parceiro e a briga é a unica maneira encontrada para que eles ainda mantenham algum tipo de relação. Vi que muitos casos de crianças criadas pelas avós fazem parte de um ciclo vicioso onde há uma tentativa de compensar um erro do passado, mas que acaba culminando em erros muito maiores no presente.

Mas vi, principalmente, que a incapacidade dos adultos conseguirem se entender com o mínimo de civilidade faz da criança a maior vítima dentre todos os envolvidos na tal briga. Ver seus pais bringando entre si começa o primeiro prejuizo para ela, pois a criança fantasia que terá que escolher um dos pais como o certo e o outro como o errado (isso quando ela não é de fato obrigada a fazer esta escolha, até mesmo perante o juíz). Depois de dado inicio no processo, onde no fim haverá um vencedor e um perderdor, apesar de isso não ser dito às claras, iniciam-se as campanhas pelo vilão da vez, onde o primeiro eleitor que tenta ser convencido disto é, mais uma vez, a criança.
Depois de muito desentendimento, disse me disse, e outras "cositas" mais vai ficando cada vez mais confuso na cabeça dos filhos a imagem de seus pais que ele tinha inicialmente, como aqueles que o amarão e protegerão acima de qualquer coisa. Quem será que me ama? quem me quer realmente junto dele?será que sou eu o culpado por toda essa briga?será que se eu escolher morar com a minha mãe meu pai não vai mais me amar?

Hoje sei que quando se trata de família não há briga pior (e mais injusta) na justiça, pois há uma tentativa de encontrar alguém que seja mais correto, ou que tenha mais razão onde, na verdade, nenhuma das partes estão totalmente com a razão ou são completamente corretas, mas são vítimas da complexidade de se envolver emocionalmente e familiarmente uns com os outros. Onde todos estão dispostos a dar o melhor de si, desde que também recebam o melhor daqueles que quer bem.




Um comentário:

Natália disse...

Só fiquei curiosa qt à sua profissão...vc é da área de psicologia?