segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Castigos Físicos: Um texto para refletir!

Como estou meio sem tempo hoje para postar decidir dividir com vocês este texto do blog onde estão reunidos os textos publicados na Folha de São Paula do Contardo Calligaris, um psicanalista que muito admiro.Vale a pena ler este e os demais textos que lá se encontram.


Castigos físicos

UMA RECENTE pesquisa Datafolha (Folha, 26/7) mostra que, no Brasil, 69% das mães e 44% dos pais admitem ter batido nos filhos.

Parêntese. Os pais são tão violentos quanto as mães: simplesmente, eles passam menos tempo em casa e lidam menos com o "adestramento" dos filhos.

A pesquisa constata também que 72% dos adultos sofreram castigos físicos quando crianças. Como se explica, então, o fato de que 54% dos brasileiros se declaram contrários ao projeto de lei que proíbe os castigos físicos em crianças? Há várias hipóteses possíveis.

1) Talvez quem apanhou quando criança não queira perder o direito de se vingar em cima dos filhos.

2) Talvez não aceitemos a ideia de que os nossos pais tinham sobre nós uma autoridade maior do que a que nós temos ou teremos sobre nossos filhos.

3) Na mesma linha, talvez estejamos dispostos a apanhar dos superiores sob a condição de sermos autorizados a bater nos subalternos.

Nota: aceitar apanhar dos mais poderosos para poder bater nos mais fracos é a caraterística que resume a personalidade burocrático-autoritária do funcionário fascista.

4) A autoridade, dizem alguns com razão, sempre tem um pé na coação e recorre à força quando seu prestígio não for suficiente para ela se impor. Hoje, a autoridade simbólica dos adultos é cada vez menor. É provável que os próprios adultos sejam responsáveis por isso (principalmente, por eles se comportarem cada vez mais como crianças); tanto faz, o que importa é que o prestígio dos adultos não lhes garante mais respeito e obediência. Portanto, a palavra aos tabefes.

É um erro: o castigo físico acaba com a autoridade de quem castiga, pois revela que seu argumento é apenas a força. A reação mais sensata da criança será: tente de novo quando eu estiver com 15 anos e 1,80 m de altura.

Esses e outros argumentos a favor da palmatória não encontram minha simpatia. Até porque verifico que os rastos desses castigos não são bonitos. Mesmo um simples tapa é facilmente traumático tanto para o pai que bateu como para o filho: ele paira na memória de ambos como uma traição amorosa que não pode ser falada por ser demasiado humilhante (para os dois). Há pais violentos que passam a vida na culpa, e há crianças cuja vida erótica adulta será organizada pela tentativa de encontrar algum sinal de amor no sadismo dos pais.

Apesar disso, se tivesse sido consultado na pesquisa, provavelmente eu teria me declarado contra a nova lei, por duas razões.

A primeira (e menos relevante) é que existem violências contra crianças piores do que a violência física, e receio que uma lei reprimindo o castigo físico nos leve a pensar que, por assim dizer, "o que não bate engorda". Infelizmente, não é preciso bater para trucidar uma criança.

A segunda razão (e mais relevante) é que a nova lei não surge num contexto em que os pais teriam poder absoluto sobre o corpo dos filhos. Mesmo sem a nova lei, o professor que visse sinais de violência no corpo de um dos alunos avisaria à polícia e à autoridade judiciária. O mesmo valeria para o pediatra ou para o psicoterapeuta. Inversamente, um pai cujo filho fosse batido na escola processaria o professor e a instituição. Também, com um pouco de sorte, uma criança batida pode denunciar o adulto que a abusa.

Pergunta: para que servem leis que pouco mudam o quadro legal e só explicitam e particularizam proibições que já vigem de modo geral?

Essas leis me parecem ter sobretudo a intenção de afirmar, demonstrar e estender o poder do Estado na vida dos cidadãos.

Uma coisa aprendi com Michel Foucault: o poder moderno é raramente extravagante em suas exigências. Como ele não tem conteúdo específico, mas gosta apenas de se expandir, ele escolhe o caminho mais fácil, conquistando a adesão "espontânea" de seus sujeitos. Como? Simples: operando "obviamente" "pelo bem dos cidadãos" -no caso, pelo bem das crianças.

Resumindo:

1) sou absolutamente contra qualquer castigo físico; 2) sou também contra a extensão do poder do Estado no campo da vida privada, por temperamento anárquico e porque sou convencido que, neste campo, as famílias erram muito, mas o Estado, quase sempre, erra mais.

E aí, qual a sua opinião sobre a famosa "Palmadinha" e outros castigos físicos?


4 comentários:

Laudiane disse...

\OI flor, amo seu blog ontem trabalhei até tarde a salvei aqui seu blog tá linkado lá no meu...
Uma coisa tenho a dizer, quero que minha filha me ame e me repeite e não que tenha medo de mim...
Não entrarei muito em méritos polêmicos mas acho que violência gera violência
bjus linda adoro vc.

Ana disse...

Concordo plenamente que o Estado não tem que se meter nisso.
O Estado tem que dar as crianças educação, saúde, lazer.
Para evitar os maltratos às crianças não é criando lei que vai resolver.
Ao invés de proibir a palmada dizendo ser uma violência fisica, deveria olhar as crianças fumando crack na ruas passando fome. Isso é o quê? Carinho?
E vou parar por aqui que esse assunto me revolta. Rs
Beijos!

Chris Ferreira disse...

OI Lua,
cheguei aqui pela indicação de selinho da Ana e adorei o seu blog, adorei essa postagem.

Também sou totalmente contra a palmada mas já me vi em situações que perdi o controle e dei uma palmada, sim. Me arrependi muito depois. E acredito que ninguém saberia dos meus sentimentos o suficiente para me julgar nesse momento. Por isso, não concordo que o Estado deve entrar nessa alçada. O próprio Estado causa violências mais graves as criaças privando-as de boa educação, de boa saúde e até de qualidade de vida para os próprios pais.
beijos
Chris
http://inventandocomamamae.blogspot.com/

Anônimo disse...

Passando pra desejar um lindo dia de domingo
Bjokas